A importância das palavras: “vivendo com demência” x “ser demente”

As palavras moldam a forma como vemos o Alzheimer. Descubra por que usar ‘vivendo com demência’ em vez de ‘ser demente’ faz toda a diferença no cuidado, autoestima e qualidade de vida. Saiba mais e busque acompanhamento especializado.

PSICOEDUCAÇÃO

Mauricio Maluf Barella

8/15/20253 min read

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Quando falamos em Alzheimer ou em outras formas de demência, não estamos apenas descrevendo uma condição médica. Estamos também lidando com histórias de vida, identidades, emoções e relações familiares. Por isso, as palavras que usamos fazem toda a diferença.

Termos como “ser demente” carregam uma carga estigmatizante e reduzem a pessoa à doença. Já expressões como “vivendo com demência” reconhecem que a condição é apenas uma parte da vida da pessoa, mas não define quem ela é.

Essa diferença linguística pode parecer pequena, mas tem um impacto profundo na autoestima, no bem-estar e até na forma como a sociedade enxerga aqueles que convivem com o diagnóstico.

A força das palavras no cotidiano

O Manual Pathways to Well-Being with Dementia destaca que uma comunicação respeitosa e positiva ajuda pacientes e familiares a construírem um caminho de esperança e dignidade. Ao dizer que alguém está “vivendo com demência”: Reconhecemos a continuidade da identidade da pessoa. Validamos seus valores, memórias e experiências que permanecem, mesmo diante das perdas cognitivas. Abrimos espaço para uma relação de cuidado mais humana, centrada na pessoa e não apenas nos sintomas.

Por outro lado, termos pejorativos como “ser demente” podem reforçar estereótipos de incapacidade e gerar sentimentos de exclusão social. Estudos mostram que a linguagem negativa está associada a maior estigma, isolamento e até depressão em quem recebe o diagnóstico (Swaffer, 2014; WHO, 2021).

Linguagem e identidade

Pesquisas em psicologia social e saúde mental mostram que a forma como nomeamos uma condição influencia a forma como ela é vivida. Isso é conhecido como o efeito do rótulo.

Expressões como “paciente demente” tendem a reduzir a pessoa à doença, obscurecendo suas capacidades preservadas. Expressões como “pessoa vivendo com demência” promovem a abordagem centrada na pessoa, defendida por Kitwood (1997), que valoriza a individualidade, o respeito e a dignidade em cada etapa da doença.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também recomenda o uso de termos que evitem estigmatização e promovam inclusão, destacando que o respeito linguístico é parte fundamental do cuidado (WHO, Global Action Plan on Dementia, 2017).

Impactos no cuidado e no tratamento do Azheimer

A escolha das palavras afeta não apenas a autoestima, mas também a qualidade do cuidado:

Na família: familiares que falam em “conviver com” tendem a ter uma postura mais acolhedora, enquanto aqueles que dizem “ser demente” podem reforçar distanciamento emocional.

Nos profissionais de saúde: médicos e psicólogos que adotam linguagem centrada na pessoa ajudam a reduzir a ansiedade e aumentam a confiança do paciente no processo terapêutico.

Na sociedade: campanhas públicas que usam termos respeitosos conseguem engajar mais a comunidade na luta contra o estigma. Caminhos para uma comunicação mais inclusiva

Para transformar a experiência de quem vive com Alzheimer ou outra demência, podemos adotar práticas simples de linguagem: Evite: “demente”, “sofredor de Alzheimer”, “vítima de demência”. Prefira: “pessoa vivendo com demência”, “indivíduo com Alzheimer”, “pessoa em processo de cuidado”.

Use palavras que transmitam respeito, esperança e dignidade.

Lembre-se: cada pessoa tem uma história única, que vai muito além do diagnóstico.

Por que isso importa?

Palavras moldam pensamentos. Pensamentos moldam atitudes. E atitudes moldam vidas. Ao mudar a forma como falamos sobre a demência, ajudamos a construir uma sociedade mais compassiva, na qual pacientes e familiares se sintam vistos, ouvidos e respeitados.

Considerações finais

“Viver com demência” não significa perder totalmente quem se é, mas aprender a caminhar de uma nova forma. Ao substituir termos estigmatizantes por uma linguagem que valorize a pessoa antes da doença, fortalecemos a autonomia, o afeto e o sentido de propósito, mesmo diante dos desafios.

Se você ou alguém que ama recebeu um diagnóstico de Alzheimer ou outra demência, saiba que não está sozinho. O acompanhamento especializado pode ajudar a compreender melhor o quadro, reduzir os impactos e manter a qualidade de vida.

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Referências

  • Kitwood, T. (1997). Dementia Reconsidered: The Person Comes First. Open University Press.

  • Swaffer, K. (2014). Dementia: Stigma, language, and dementia-friendly. Dementia, 13(6), 709–716.

  • World Health Organization (2017). Global action plan on the public health response to dementia 2017–2025.

  • World Health Organization (2021). Global status report on the public health response to dementia.