A perda do olfato como sinal precoce da doença de Alzheimer
Perda do olfato pode ser sinal precoce do Alzheimer. Descubra as evidências científicas e como a aromaterapia pode ajudar na estimulação cognitiva.
DIAGNÓSTICO
Mauricio Maluf Barella
8/25/20254 min read


A perda do olfato (anosmia ou hiposmia) tem sido identificada como um possível sinal precoce da Doença de Alzheimer (DA). Um estudo publicado por um veículo brasileiro destacou essa associação, indicando que alterações olfativas podem preceder o declínio cognitivo significativo. Evidências científicas: olfato e Alzheimer
1. Estudos clínicos confirmam a conexão
Em um estudo da Baltimore Longitudinal Study of Aging, pesquisadores acompanharam adultos idosos sem comprometimento cognitivo inicial. Aqueles que apresentaram redução na capacidade de identificar cheiros tiveram maior risco de desenvolver Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), e exames de PET confirmaram presença de placas beta-amiloides e emaranhados tau no cérebro dessas pessoas (Alzinfo.org, Journal of Alzheimer’s Disease, 2022) alzinfo.org .
Outro estudo demonstrou que a identificação de odores é um preditor ainda mais sensível de declínio cognitivo do que déficits iniciais de memória episódica verbal (Devanand et al., Neurology, 2015) Neurology .
2. Mecanismos neurobiológicos revelados recentemente
Pesquisas recentes destacam que a disfunção olfatória ocorre antes das alterações cognitivas porque regiões como o bulbo olfativo e o locus coeruleus são afetadas precocemente.
Estudos com modelos animais e humanos evidenciaram que a perda de conexões noradrenérgicas entre o locus coeruleus e o bulbo olfativo, via microglia, reduz a capacidade olfativa antes do surgimento das placas amiloides (Meyer et al., Nature Communications, 2025) Nature +1 .
Além disso, uma revisão recente ressaltou que alterações olfativas antecedem o comprometimento cognitivo subjetivo e o CCL, e que exames comportamentais ou de fMRI olfativos podem ser a chave para a detecção precoce (Liu et al., Frontiers in Neuroscience, 2024) Frontiers .
3. Ferramentas de rastreio promissoras
Pesquisadores da Universidade de Harvard desenvolveram um teste olfativo domiciliar (peel-and-sniff) com alta usabilidade, permitindo identificar alterações na percepção olfativa em idosos com comprometimento cognitivo funcional (Albers et al., Scientific Reports, 2025).
Essa abordagem não invasiva e acessível pode facilitar o rastreio precoce (Mass General Brigham Communications, 2025) nypost.com +4 news.harvard.edu +4 nypost.com +4 .
4. Implicações clínicas e sociais
Perder o olfato pode parecer simples, mas está relacionado a alterações estruturais no cérebro—como atrofia nos lobos temporais, amígdala e córtex entorrinal—e serve como alerta para o risco de evolução para demência (Pinto et al., Practical Neurology, 2022) practicalneurology.com .
Além disso, portadores do gene de risco APOE ε4 têm probabilidade maior de apresentar declínio olfativo precoce, porcentagens que aumentam com a idade (Verywell Health, 2023) verywellhealth.com .
5. Aromaterapia: pode ajudar no déficit olfativo?
Além de ser um marcador precoce, o olfato também pode ser um alvo terapêutico.
A aromaterapia, baseada na exposição controlada a óleos essenciais, tem demonstrado efeitos positivos no bem-estar e até em aspectos cognitivos e comportamentais em pessoas com Alzheimer e comprometimento cognitivo leve. Em uma revisão sistemática da Frontiers in Aging Neuroscience, a exposição a aromas como lavanda, alecrim e limão mostrou benefícios na redução de agitação, melhora do humor e potencial estimulação da memória (Jimbo et al., 2009; Chamine & Oken, 2015).
Um ensaio clínico realizado no Japão utilizou uma combinação de óleos essenciais — lavanda e laranja à noite, alecrim e limão pela manhã — durante 28 dias. Os resultados apontaram melhora significativa da orientação espacial e atenção, sugerindo que a aromaterapia pode modular circuitos neurais relacionados ao olfato e à memória (Jimbo et al., 2009).
Outros estudos destacam que a estimulação olfativa frequente, mesmo em pacientes com déficit inicial, pode ajudar a manter a plasticidade neural e reforçar conexões cerebrais (Forrester et al., 2020).
Embora os mecanismos exatos ainda estejam em investigação, a aromaterapia aparece como um recurso complementar, não invasivo e de baixo custo, capaz de promover qualidade de vida e possivelmente retardar o declínio funcional.
Conclusão
A perda do olfato deve ser considerada muito além de um inconveniente sensorial — ela pode ser um dos primeiros sinais da Doença de Alzheimer. O uso de testes olfativos simples pode facilitar o diagnóstico precoce, enquanto intervenções como a aromaterapia trazem esperança não só no cuidado emocional, mas também na estimulação cognitiva.
Se você ou alguém próximo percebeu alterações no olfato, não as ignore: procure avaliação especializada e considere práticas complementares seguras, como a aromaterapia, dentro de um plano de cuidado integrado.
Referências
ALZINFO. Olfaction, cognitive impairment, and PET biomarkers in community-dwelling older adults. Journal of Alzheimer’s Disease, 2022. CHAMINE, I.;
OKEN, B. S. Aroma effects on physiology and behavior: Clinical implications. Frontiers in Aging Neuroscience, v. 7, n. 216, 2015.
DEVANAND, D. P. et al. Impairment in odor identification superior to deficits in verbal episodic memory in predicting cognitive decline. Neurology, v. 85, n. 18, 2015.
FORRESTER, S. N. et al. Odor identification and Alzheimer’s disease biomarkers in clinically normal older adults. Neurobiology of Aging, v. 85, p. 1–10, 2020.
HARVARD. Researchers develop at-home test to ID those at risk of Alzheimer’s disease. Scientific Reports, 2025.
JIMBO, D. et al. Effect of aromatherapy on patients with Alzheimer’s disease. Psychogeriatrics, v. 9, n. 4, p. 173–179, 2009.
LIU, D. et al. Olfactory deficit: a potential functional marker across the Alzheimer’s disease continuum. Frontiers in Neuroscience, 2024.
MASS GENERAL BRIGHAM COMMUNICATIONS. Early detection of Alzheimer’s may start with simple test. 2025.
MEYER, C. et al. Early Locus Coeruleus noradrenergic axon loss drives olfactory dysfunction in Alzheimer’s disease. Nature Communications, v. 16, 2025.
PINTO, J. M. et al. Loss of smell may predict Alzheimer disease and dementia. Practical Neurology, 2022.
VERYWELL HEALTH. Losing Your Sense of Smell May Be a Warning Sign of Alzheimer’s. 2023.