Ansiedade e Depressão na Comprometimento Cognitivo Leve: um Novo Olhar para o Risco de Demência
Descubra como a ansiedade pode acelerar o declínio cognitivo no Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e aumentar o risco de demência. Veja estratégias de prevenção e tratamento.
Mauricio Maluf Barella
9/8/20254 min ler


O que é Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)?
O Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) é uma condição intermediária entre o envelhecimento normal e a demência, especialmente a doença de Alzheimer. Pacientes com CCL apresentam queixas de memória ou atenção, mas ainda mantêm relativa autonomia nas atividades diárias. No entanto, até 50% deles podem evoluir para demência em alguns anos (Sanford, 2017).
Por isso, identificar fatores que aceleram esse processo é essencial para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento precoce.
O papel da ansiedade no declínio cognitivo
O estudo publicado em 2025 no Kafkas Journal of Medical Sciences analisou 45 pacientes com CCL e mostrou que a ansiedade é um fator de risco independente para o declínio cognitivo, mais relevante até do que a depressão.
Ansiedade e depressão na CCL
Principais achados:
Mulheres apresentaram níveis significativamente maiores de ansiedade que os homens.
A ansiedade severa esteve associada a piores resultados nos testes de atenção, fluência verbal e pensamento abstrato.
A depressão também esteve presente, mas não mostrou a mesma força de associação com piora cognitiva.
O MoCA (Montreal Cognitive Assessment) mostrou ser mais sensível que o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) para detectar déficits sutis associados à ansiedade.
Esses resultados reforçam a ideia de que a ansiedade não é apenas um sintoma secundário, mas pode ser um sinal precoce e modificável de risco para a demência.
Mecanismos neurobiológicos
Pesquisas recentes sugerem que a ansiedade influencia a cognição por múltiplas vias:
Eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal): aumento de cortisol pode afetar hipocampo e memória (Thai et al., 2021).
Conectividade fronto-límbica alterada: maior ativação da amígdala e menor controle pré-frontal em pessoas ansiosas (Etkin & Wager, 2007).
Ciclo bidirecional: a ansiedade acelera déficits executivos, enquanto a percepção das falhas cognitivas pode intensificar a ansiedade (Botto et al., 2022).
Estratégias de prevenção e tratamento
Diante desse cenário, intervenções precoces são fundamentais:
Avaliação neuropsicológica completa
Uso de testes como MoCA para detectar déficits sutis de funções executivas.
Rastreamento de sintomas ansiosos e depressivos com escalas clínicas validadas.
Intervenções não farmacológicas
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): evidência consistente para redução da ansiedade e melhora cognitiva em idosos.
Treinamento cognitivo e reabilitação neuropsicológica, com foco em atenção e funções executivas.
Atividade física regular, que reduz sintomas de ansiedade e promove neuroplasticidade.
Intervenções farmacológicas
ISRS (inibidores seletivos da recaptação de serotonina) apresentam resultados promissores no controle da ansiedade e preservação cognitiva em CCL (Bandelow et al., 2015).
Implicações clínicas
Esse estudo reforça que a ansiedade deve ser encarada como um marcador de risco para a progressão do CCL. O manejo adequado pode ajudar a:
Retardar a evolução para demência;
Preservar a qualidade de vida dos pacientes;
Apoiar familiares no cuidado com idosos em risco.
Conclusão
A ansiedade, muitas vezes subestimada, pode acelerar o declínio cognitivo no CCL. Por isso, seu diagnóstico e tratamento precoce devem ser prioridade em protocolos clínicos de prevenção da demência.
Se você ou alguém da sua família apresenta sintomas de perda de memória associados à ansiedade, agende uma avaliação especializada. Nossa clínica oferece avaliação neuropsicológica completa e estratégias personalizadas de prevenção da demência.
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