Curry e Curcumina: um aliado protetivo contra o declínio cognitivo e a demência

Estudos mostram que o consumo de curry, rico em curcumina, pode proteger contra o declínio cognitivo e Alzheimer. Descubra os benefícios e evidências científicas.

PREVENÇÃO

8/25/20254 min read

Introdução

O Alzheimer e outras demências representam um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI. Embora fatores genéticos (como o gene APOE-ε4) e cardiovasculares desempenhem papel importante, cresce o interesse pelo impacto da dieta e dos compostos bioativos na prevenção da deterioração cognitiva.

Entre eles, a curcumina — principal polifenol da cúrcuma (Curcuma longa), ingrediente essencial do curry — tem recebido atenção devido às suas propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e neuroprotetoras.

O estudo populacional de Singapura

Um estudo de coorte longitudinal conduzido com 2.920 idosos (idade média 65,5 anos) investigou a relação entre o consumo de curry e a ocorrência de declínio cognitivo e comprometimento cognitivo leve (CCL) ou demência . Método: os participantes relataram a frequência de consumo de curry (nunca, ocasional, frequente, muito frequente e diário). Foram seguidos por 4,5 anos.

Resultados principais:

Houve uma redução linear na incidência de CCL/demência conforme aumentava a frequência de consumo de curry. A incidência caiu de 13,1% nos que nunca/raramente consumiam para 3,6% entre os consumidores diários.

O consumo diário esteve associado a uma redução de quase 80% no risco (OR ajustado = 0,21; p < 0,001). Conclusão: o curry rico em curcumina está associado a um efeito protetor dose-dependente contra declínio cognitivo e demência .

Evidências de mecanismos neurobiológicos

Estudos experimentais explicam como a curcumina pode proteger o cérebro:

Ação anti-amiloide: inibe a formação e promove a depuração de placas beta-amiloide, marca registrada do Alzheimer (Ono et al., 2004; Yang et al., 2005).

Efeito anti-tau: reduz a hiperfosforilação da proteína tau, relacionada à degeneração neuronal (Park et al., 2008).

Neuroinflamação e estresse oxidativo: diminui a produção de radicais livres e a ativação microglial exagerada (Nicoliche et al., 2024).

Neuroplasticidade: restaura a potenciação de longo prazo (LTP) no hipocampo, essencial para memória e aprendizagem (Ahmed et al., 2011).

Ensaios clínicos com curcumina

Além dos estudos populacionais, ensaios clínicos exploraram suplementos de curcumina em idosos: Cox et al. (2015): formulação lipídica de curcumina melhorou memória de trabalho e atenção em idosos saudáveis após doses agudas e uso crônico de 4 semanas. Rainey-Smith et al. (2016): uso de Biocurcumax™ (1500 mg/dia) melhorou escores no MoCA em 24 semanas, embora o efeito tenha se dissipado em 48 semanas. Dost et al. (2021): estudo retrospectivo em pacientes com Alzheimer mostrou que a suplementação com Theracurmin esteve associada a melhora em memória e cognição funcional.

Meta-análises recentes (Wang et al., 2025; Zhu et al., 2019): apontam que a curcumina melhora principalmente atenção, memória de trabalho e funções executivas, sobretudo em populações asiáticas. Limitações e considerações

Nem todos os ensaios clínicos mostraram efeitos consistentes. Diferenças em formulação, biodisponibilidade e dose da curcumina podem explicar os resultados heterogêneos. A absorção da curcumina é baixa quando ingerida isoladamente; combiná-la com pimenta preta (piperina) aumenta sua biodisponibilidade.

Estudos futuros devem avaliar não só o Alzheimer, mas também outras demências, como a vascular e a frontotemporal.

Conclusão

O corpo crescente de evidências sugere que o consumo frequente de curry — e, consequentemente, de curcumina — está associado a um menor risco de declínio cognitivo e demência. Embora os achados de ensaios clínicos ainda não sejam totalmente conclusivos, a integração de cúrcuma na dieta aparece como uma estratégia segura, acessível e culturalmente aceitável para promover saúde cerebral.

Referências

  • AHMED, T. et al. Curcuminoids rescue long-term potentiation impaired by amyloid peptide in rat hippocampal slices. Synapse, v. 65, p. 572–582, 2011.

  • COX, K. H.; PIPINGAS, A.; SCHOLEY, A. B. Investigation of the effects of solid lipid curcumin on cognition and mood in a healthy older population. Journal of Psychopharmacology, v. 29, p. 642–651, 2015.

  • DOST, F. S. et al. Teracurmin supplementation may be a therapeutic option for older patients with Alzheimer’s disease: A 6-month retrospective follow-up study. Current Alzheimer Research, v. 18, p. 1087–1092, 2021.

  • LU, Y. et al. Curcumin-Rich Curry Consumption Is Associated with Lower Risk of Cognitive Decline and Incidence of Mild Cognitive Impairment or Dementia: An Asian Population-Based Study. Nutrients, v. 17, n. 2488, 2025 .

  • NICOLICHE, T. et al. Antiviral, anti-inflammatory and antioxidant effects of curcumin and curcuminoids in SH-SY5Y cells infected by SARS-CoV-2. Scientific Reports, v. 14, 10696, 2024.

  • ONO, K.; HASEGAWA, K.; NAIKI, H.; YAMADA, M. Curcumin has potent anti-amyloidogenic effects for Alzheimer’s beta-amyloid fibrils in vitro. Journal of Neuroscience Research, v. 75, p. 742–750, 2004.

  • PARK, S. Y. et al. Curcumin protected PC12 cells against beta-amyloid-induced toxicity through inhibition of oxidative damage and tau hyperphosphorylation. Food and Chemical Toxicology, v. 46, p. 2881–2887, 2008.

  • RAINEY-SMITH, S. R. et al. Curcumin and cognition: A randomised, placebo-controlled, double-blind study of community-dwelling older adults. British Journal of Nutrition, v. 115, p. 2106–2113, 2016.

  • WANG, W. et al. The effect of curcumin supplementation on cognitive function: An updated systematic review and meta-analysis. Frontiers in Nutrition, v. 12, 1549509, 2025.

  • YANG, F. et al. Curcumin inhibits formation of amyloid beta oligomers and fibrils, binds plaques, and reduces amyloid in vivo. Journal of Biological Chemistry, v. 280, p. 5892–5901, 2005.

  • ZHU, L. N. et al. Curcumin intervention for cognitive function in different types of people: A systematic review and meta-analysis. Phytotherapy Research, v. 33, p. 524–533, 2019.