Impacto das Emoções Negativas no Comprometimento Cognitivo Leve (CCL): Por que Detectar Precoce é Essencial

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DIAGNÓSTICO

9/15/20253 min ler

O Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) é frequentemente lembrado como um estágio intermediário entre o envelhecimento normal e a demência, especialmente o Alzheimer. Mas um estudo recente mostrou que o impacto do CCL vai além da memória: pessoas com esse diagnóstico apresentam dificuldades para reconhecer emoções negativas, como tristeza, medo e raiva, mesmo quando a atividade neural associada a essas funções parece relativamente preservada

Compreender essas alterações é essencial, pois a capacidade de interpretar expressões faciais está diretamente ligada à comunicação, ao bem-estar emocional e à manutenção dos vínculos sociais.

Emoções negativas e declínio cognitivo: o que a ciência mostra

Estudos apontam que a leitura de expressões faciais complexas é uma das primeiras habilidades afetadas quando surgem alterações cognitivas sutis (Elferink et al., 2015; Weiss et al., 2008). No estudo de Mahadevan et al. (2025) , participantes com CCL tiveram desempenho significativamente pior na identificação de emoções negativas, embora conseguissem reconhecer expressões de felicidade com relativa facilidade. Essa dissociação sugere que as redes cerebrais responsáveis pela empatia e pela detecção de ameaças sociais podem ser vulneráveis desde os estágios iniciais do declínio cognitivo.

Pesquisas anteriores reforçam que essas dificuldades estão associadas a alterações em regiões como amígdala, córtex pré-frontal ventromedial, giro fusiforme e cíngulo anterior, áreas envolvidas no processamento emocional (Barbieri et al., 2022; Nakajima et al., 2022). A perda de precisão no reconhecimento de emoções pode gerar mal-entendidos, conflitos interpessoais e até isolamento, prejudicando a qualidade de vida.

Estratégias terapêuticas: treino socioemocional como aliado

A boa notícia é que intervenções direcionadas podem ajudar. Programas de treino socioemocional, que incluem exercícios de reconhecimento facial, interpretação de sinais não verbais e simulações de situações sociais, têm mostrado benefícios em indivíduos com alterações cognitivas leves (Pietschnig et al., 2016).

Além disso, atividades que estimulam funções executivas e memória de trabalho — como jogos de tabuleiro, grupos de convivência, música e teatro — podem reforçar circuitos neurais importantes para o controle emocional (Kawagoe et al., 2017). Esses recursos, associados a acompanhamento psicológico, ajudam a preservar a capacidade de interação, reduzem frustrações e fortalecem vínculos familiares.

Orientação para cuidadores: comunicação mais clara e menos conflitos

Cuidadores e familiares devem ser informados sobre essas alterações para adaptar sua comunicação. Usar frases curtas, manter contato visual, apoiar-se em gestos e validar emoções são estratégias que favorecem a compreensão mútua. Reconhecer que a dificuldade em interpretar tristeza ou medo não é “falta de interesse”, mas um sintoma, reduz o risco de atritos e melhora o clima emocional do cuidado.

Avaliação neuropsicológica: peça-chave para prevenção

Detectar precocemente mudanças no reconhecimento emocional é fundamental para prevenir o isolamento social e planejar intervenções que mantenham a autonomia. Avaliações neuropsicológicas periódicas permitem identificar alterações sutis, orientar estratégias de reabilitação e apoiar tanto o paciente quanto a família.

Se você ou um familiar tem apresentado esquecimentos associados a dificuldades para interpretar emoções ou situações sociais, procure um neuropsicólogo. Uma avaliação especializada pode ajudar a esclarecer o quadro, orientar intervenções e preservar a qualidade de vida.

Referências (ABNT)

BARBIERI, A. et al. Emotional processing and brain networks in aging and mild cognitive impairment. Frontiers in Psychology, v.13, p. 1-12, 2022.

ELFERINK, L. et al. Impairments in recognition of facial expressions in mild cognitive impairment. Neuropsychology, v.29, n.6, p. 835-845, 2015.

KAWAGOE, T. et al. Emotional and cognitive interventions in mild cognitive impairment: a neuropsychological perspective. Geriatrics & Gerontology International, v.17, n.6, p. 895-903, 2017.

MAHADEVAN, R. et al. Negative Emotion Recognition Impairments Despite Preserved Neural Activity in Patients with Mild Cognitive Impairment. 2025.

NAKAJIMA, S. et al. Neural correlates of sadness and social cognition in cognitive aging. Cerebral Cortex, v.32, n.3, p. 567-580, 2022.

PIETSCHNIG, J. et al. The role of social cognition training in older adults with mild cognitive decline. Clinical Gerontologist, v.39, n.3, p. 182-191, 2016.

WEISS, E. M. et al. Recognition of emotions in mild cognitive impairment and Alzheimer’s dementia. Dementia and Geriatric Cognitive Disorders, v.26, n.2, p. 109-115, 2008.